Quaresma: Um Tempo de Arrependimento e Transformação Interior.

A Quaresma é um tempo litúrgico fundamental para a preparação espiritual dos cristãos, sendo um período de reflexão, penitência e renovação. Ao longo desses 40 dias, a Igreja nos convida a viver um momento de profunda conversão, um retorno a Deus por meio do jejum, da oração, da esmola e da penitência. Esses atos não devem ser vistos como simples rituais externos, mas como caminhos que nos levam a uma renovação interior, purificando-nos das inclinações pecaminosas e aproximando-nos das virtudes cristãs.
A Bíblia fornece uma base sólida para a prática da penitência, destacando sua importância no processo de conversão. O profeta Joel, por exemplo, em seu livro, faz um chamado sincero ao povo de Israel, dizendo: “Por isso, agora ainda – oráculo do Senhor -, voltai a mim de todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos de luto. Rasgai vossos corações e não vossas vestes; voltai ao Senhor, vosso Deus, porque ele é bom e compassivo, longânime e indulgente.” (Joel 2, 12-13). Esse trecho destaca que a penitência deve ser uma atitude interna, um arrependimento genuíno, e não apenas uma demonstração exterior.
Além disso, no Evangelho de Mateus, Jesus nos ensina sobre a maneira correta de jejuar, buscando sempre a sinceridade e a humildade em nossos atos. Ele nos diz: “Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto. Assim, não parecerá aos homens que jejuas, mas somente a teu Pai, que está presente ao oculto; e teu Pai, que vê num lugar oculto, te recompensará” (Mateus 6, 16-18). O ensino de Jesus aqui é claro: a penitência deve ser vivida de forma discreta, buscando a aprovação divina e não a humana.
Os santos também oferecem valiosos ensinamentos sobre a penitência. São João Paulo II, por exemplo, afirma que “a penitência quaresmal é uma oportunidade para crescer na amizade com Deus, purificando a alma e aperfeiçoando-se na vida cristã”. Para ele, a Quaresma não é apenas um momento de sacrifício, mas uma chance de estreitar os laços com o Senhor. Já São Francisco de Sales nos ensina que “a penitência não é o sofrimento pela dor, mas a alegria do coração que se volta para Deus”. Para ele, a penitência deve ser vivida com alegria e amor, como uma expressão de devoção verdadeira. Santa Teresinha do Menino Jesus, por sua vez, dizia: “Eu não tenho mais o que fazer por Cristo, mas posso dar-lhe meu amor.” Para Santa Teresinha, a penitência se expressa principalmente através do amor e dos pequenos sacrifícios diários feitos com grande devoção.
O Catecismo da Igreja Católica também oferece ensinamentos profundos sobre a penitência. No parágrafo 1430, ele nos lembra que “na Quaresma, a Igreja se une a Cristo no deserto, e ele nos convida à oração, ao jejum e à esmola, como sinais do verdadeiro arrependimento”. O Catecismo explica que essas práticas têm como objetivo preparar os fiéis para a celebração da Páscoa, renovando nossa vida cristã. Em outro trecho, o Catecismo diz que “o jejum e a abstinência são sinais de penitência, uma forma de expressar exteriormente a nossa conversão interior” (CIC 1434). A penitência não é apenas um sofrimento físico, mas uma transformação do coração que nos aproxima de Deus. No parágrafo 1436, o Catecismo explica ainda que essas práticas nos ajudam a viver mais intensamente o sacrifício de Cristo, para que possamos participar da Páscoa com um coração renovado.
Em resumo, a penitência quaresmal é um chamado à conversão, ao arrependimento sincero e à transformação interior. A Igreja nos oferece este tempo para que possamos nos afastar das distrações e buscar uma vida mais íntima com Deus, com humildade e sinceridade. Como nos ensinou São João Paulo II, a Quaresma é uma oportunidade para crescermos na amizade com Deus e nos renovarmos espiritualmente.
Ao vivermos a penitência com amor e dedicação, podemos alcançar a verdadeira conversão, preparando-nos para celebrar a Páscoa com um coração purificado e cheio de gratidão pela misericórdia divina.